Silvinei Vasques, o agente de Bolsonaro na PRF
Ex-diretor-geral da PRF é acusado de usar a corporação para impedir eleitores de Lula de votar no segundo turno e de fazer vista grossa aos bloqueios de estradas que deram início ao movimento golpista
14/06/2023 • 05:00:00
Em maio de 2022, um assassinato cruel manchou a imagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF) perante o mundo. Em Sergipe, dois agentes da força trancafiaram Genivaldo Santos, 38 anos, na parte de trás de uma viatura e o fizeram inalar gás lacrimogêneo. A vítima, que antes tinha sido espancada e amarrada, não resistiu. Segundo laudo médico, morreu devido a asfixia e insuficiência respiratória aguda.
Ao saber do crime, o ex-presidente Jair Bolsonaro se mostrou mais preocupado em elogiar e ressaltar a importância da PRF do que indignado. Dias depois, no entanto, viu que precisava dar uma resposta à sociedade e demitiu Jean Coelho e Allan da Mota Rebello, então diretor-executivo e diretor de inteligência da corporação. Mas, para o diretor-geral Silvinei Vasques, nem uma reprimenda sequer.
Hoje, está claro por que Vasques era “intocável”, e nem mesmo um assassinato bárbaro ocorrido sob seu comando o fez perder o cargo. Ele estava ali para ser o agente de Bolsonaro na PRF, pronto para, meses mais tarde, organizar operações que impedissem eleitores do Nordeste de votar no segundo turno das eleições ou fazer vista grossa ao bloqueio de estradas por golpistas logo após a vitória de Lula.
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Ele terá a chance de explicar esses dois últimos episódios na próxima terça-feira (20), quando será a primeira testemunha a ser ouvida pela CPMI do Golpe. Sua convocação foi aprovada pela comissão parlamentar mista de inquérito na terça passada (13).
Amigo dos Bolsonaros
Silvinei Vasques cresceu dentro da PRF durante o governo Bolsonaro. Segundo o site GGN apurou, ele era amigo de Eduardo e Flávio Bolsonaro e hospedava os filhos do ex-presidente em sua casa em Santa Catarina. Também emprestava sua lancha e seu jet ski para os dois passearem e os encontrava no Clube de Tiro .38, um dos mais polêmicos redutos bolsonaristas do país.
A amizade rendeu. Vasques foi nomeado diretor-geral da PRF em abril de 2021, dias após Anderson Torres se tornar ministro da Justiça. Logo se mostrou fiel à cartilha desumana e suspeita do bolsonarismo. Além de promover a politização da força de forma nunca vista, ele editou portaria para revogar o funcionamento de comissões internas de direitos humanos. E os oito processos administrativos a que respondia foram colocados em sigilo de 100 anos.
Em 2023, quando os sigilos foram derrubados, descobriu-se que Vasques foi investigado, entre outros malfeitos, por cobrar propina, discriminar um colega e por espancar um frentista de posto de gasolina que se recusou a lavar sua viatura. Nesse último caso, foi condenado e gerou um prejuízo de mais de R$ 50 mil à União, que teve de indenizar a vítima.
Participação da tentativa de golpe
A fidelidade espúria a Bolsonaro ficou mais evidente perto das eleições de 2022. Além de pedir votos para o ex-capitão, Vasques organizou (ao que tudo indica, junto com Anderson Torres) uma megaoperação de fiscalização no Nordeste justamente no dia do segundo turno das eleições. O objetivo de prejudicar a votação de Lula ficou tão evidente que o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro pediu seu afastamento por uso indevido do cargo.
Além disso, quando bolsonaristas deram início à tentativa de golpe, bloqueando estradas no dia seguinte às eleições, Vasques fez corpo mole e não agiu para liberar as rodovias. Foi preciso que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, o ameaçasse de prisão para que cumprisse com seu dever.
Em dezembro de 2022, acabou exonerado da PRF, recebendo como prêmio uma aposentadoria integral aos 47 anos. Vasques não perdeu tempo. Segundo denúncia da Agência Pública, foi pedir emprego à Combat Armor Defense do Brasil, empresa de armamentos que lucrou milhões graças a contratos firmados com a PRF em sua gestão.
Da Redação